Vozes Plurais - Dezembro 2022
Para que as organizações de voluntariado e promoção humana encontrem pessoas desejosas de empenhar-se pelo bem comum e procurem caminhos sempre novos de colaboração a nível internacional.
Na vida, o que fica é o que fazemos com ela. Tentar viver a nossa vida para melhorar um pouco o Mundo é a filosofia de qualquer voluntário.
Ser voluntário é Amar a vida e a todos por igual. Dar um pouco de si e do seu tempo.
Interessante que, muitas vezes, ouvimos dizer: ”Eu já sou voluntário no meu trabalho, no dia a dia.” - Se assim pensa…quem sou eu para o contrariar e, desde que faça algo, nada mau.
Mas, ser voluntário é algo que se faz de forma organizada, com formação e com continuidade, por determinado período de tempo, sistematicamente. É uma pessoa dedicar-se a alguém, ou alguma causa.
Atos isolados, no trabalho ou no dia a dia, considero que são considerados de boa cidadania, bom profissionalismo. Contudo, isso não faz de nós voluntários.
A causa, ou alguém a quem nos dedicamos, está a contar connosco sempre, de forma contínua e pelo período de tempo que cada voluntário pode dar.
Caso não o façamos de forma regular, quem está do outro lado vai sentir-se triste, desapontado, desiludido e um vazio difícil de explicar.
Ser voluntário é pensar antecipadamente de forma organizada, com aprendizagem naquilo que eu posso fazer regularmente para melhorar a vida de alguém.
Como Voluntária, já fiz 14 Missões, em várias partes do Mundo, nomeadamente em Portugal, com vários Grupos: Grupo Diálogos SVD, Associação Because I Care, Grupo de Jovens Voluntários Dividir Para Amar, bem como com a Associação que criei “Ama a Vida (Amor, Missão, Ajuda, Voluntariado, Igualdade, Dignidade, Amizade).” Já passei por momentos onde chorei de tristeza, onde dormi sem condições nenhumas, falta de comida, dificuldades imensas. Mas de uma coisa tenho certeza: as lágrimas de alegria fazem-me esquecer tudo o que de menos bom tenha acontecido.
De lágrimas nos olhos repasso, de forma rápida, todos os dias das minhas missões, essas partilhas de vidas que se cruzaram por alguma razão que a própria razão não explica.
Na fronteira da Ucrânia, o que mais me marcou foram os rostos de desespero e medo das pessoas ao olharem para nós e sem saberem quem eramos e para onde os íamos levar. O desespero dessas pessoas e nós sem sabermos falar a sua língua, foi muito difícil transmitir-lhes paz e segurança, associado também ao nosso medo de como iria correr a missão. Mas agora, ao ver as pessoas que resgatamos, com paz, tranquilidade e a seguirem o seu rumo, faz com que tudo tenha valido a pena.
Na memória das minhas 14 Missões fica a saudade de tantas mães, pais, jovens, idosos e crianças que, de uma forma ou de outras ajudei, conheci e com eles vivi e partilhei momentos únicos, não os trocava por nada. São tantas as histórias maravilhosas que vivi, que passava dias a contá-las.
Deixo aqui a partilha de um momento que vivi em Angola. Quando cheguei, com outros voluntários, a aldeia olhava-nos com alguma insegurança e até receio. Contudo, após 3 dias na aldeia, ao conhecerem-nos e passarem pela porta da nossa casinha deixaram 3 laranjas, 3 bananas. Éramos 3 voluntárias! Tinham pouco, mas do pouco que tinham partilharam connosco.
Lágrimas no canto dos olhos! Chegávamos a medo, tentando perceber como iria correr a missão. Depois num abrir e fechar de olhos, já estamos na despedida! Esses momentos estarão para sempre na minha memória. Muitas lágrimas, abraços e pedidos para voltarmos um dia e, dos seus lábios, esta constante a frase “Nunca nos esqueceremos do que fizeram, também não se esqueçam de nós!” E, na verdade, nunca esqueceremos nenhum deles.
Olho para cada lugar tentando guardar para sempre cada canto das aldeias, cada rosto que conheci e cada sorriso que me deram.
Às lágrimas de tristeza e alegria, já lhes perdi a conta.
Fica para todo o sempre gravado na minha vida, as vidas de outros que nestes dias de missão se cruzaram na minha vida, muito me deram e algo de mim levaram.
Caminhos de DEUS que nos levam ao encontro do outro irmão que mais precisa.
Pedaços de céu, numa terra de ninguém e que todos reclamam.
Fátima Ribeiro (Tucha)
Associação Ama a Vida
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